domingo, 24 de junho de 2007

No Controle

Recentemente assisti a um filme que me deixou bastante pensativo, e até certo ponto, posso dizer, perplexo. Para matar sua curiosidade, o nome deste filme é “Instinto”, com Anthony Hopikins no papel de um famoso antropólogo e primatologista que passou quase 2 anos de sua vida morando com gorilas da montanha na África, sendo então preso por matar a pauladas dois guardas florestais e ferir outros três. Depois de um ano preso foi extraditado para um presídio nos EUA, onde ficou em uma ala especial para os psicóticos. Um ambicioso jovem e promissor psiquiatra, neste papel Cuba Gooding, Jr., foi incumbido de entregar as autoridades uma avaliação mental sobre este paciente. Se conseguisse êxito, pois o antropólogo não emitia uma palavra e era muito agressivo, seria a alavanca para o seu sucesso profissional.

Depois de conseguir que o antropólogo falasse, o psiquiatra, em uma das seções de avaliação pediu para o guarda os deixarem a sós na sala. Após muita conversa o psiquiatra tocou num ponto que o antropólogo não queria conversar. O antropólogo (Dr. Ethan Powell) queria sair da sala e que a conversa acabasse, ao contrário do psiquiatra (Dr. Theo Caulder), este queria conversar mais, falar sobre a filha do antropólogo. Além disso começou a argumentar, em tom de superioridade e ironia, uma série de coisas que ele tinha dito e realizado em seu favor:

- Não fui eu que cortei o seu medicamento?

- Eu quem disse que você era competente, para poder sair daqui?

E então falou bem perto do ouvido do antropólogo:

- Sou eu, sim?

Então o antropólogo, de costas, olhando pelo vidro da porta, perguntou:

- É você quem controla? Hã?

O psiquiatra respondeu:

- Sim, sou eu?

Neste momento o antropólogo dominou o psiquiatra e o prostrou subjugado com o rosto sob a mesa onde havia papel e lápis de cera. Colou uma fita adesiva na boca do psiquiatra (a qual tinha arrancado do braço da cadeira no início da conversa) e fez a seguinte pergunta:

- Quem controla agora?... Você?... Eu?... Os guardas lá fora? O diretor?...

Então ele diz que fará agora um teste de vida ou morte e grita no ouvido do psiquiatra:

- Escreva no papel o que eu tirei de você! O que você perdeu?

A primeira resposta do psiquiatra:

CONTROLE

- Errou! Nunca controlou nada! Foi uma ilusão!

O que você controla?!... O volume do rádio, o ar-condicionado do carro? O que mais?

- Outra chance. O que você perdeu? Escreva!

Segunda resposta do psiquiatra:

MINHA LIBERDADE

- Seu tonto!! Pensou que estava livre?!

- Onde você foi às 2 da tarde? A academia? De manhã, o que te acorda?

- À noite acorda suando com o coração disparado! Eu também já fui assim!

Neste momento lágrimas correm pelo rosto do psiquiatra. Estava se borrando de medo!

- O que faz com que fique amarrado, preso em nós? (nós de corda, não nós pronome)

- É ambição? Sim! Entendo bem você garoto! Eu também já fui assim!

- Última chance! Acha que eu não te mataria? O que você perdeu? O que eu tirei de você? Escreva!

Terceira resposta do psiquiatra:

MINHAS ILUSÕES

- Parabéns!

Neste momento o antropólogo libertou o psiquiatra retirou a fita de sua boca.

- Você não perdeu nada além de suas ilusões... e um pouco de pele. (saiu junto com a fita)

Deu para perceber a profundidade disto? O que você é, ou acha que é? O que você tem, ou acha que tem? Também acredita que é uma pessoa livre? Acredita também que tem o controle sobre sua vida e de algumas pessoas que te cercam?

Tenho alguns amigos, bons amigos, que dizem que não conseguem ficar sem a cervejinha no final de semana. Alguns sem a internet. Meu pai, infelizmente ainda não consegue viver sem o cigarrinho. Alguns não conseguem passar um dia sem fazer uma “fézinha”. Ouço e vejo muitas pessoas fazendo planos, tal como eu também. Porém, planos são apenas planos. Estupidamente nos agarramos a estes planos como se eles já fossem realidades, o presente, o agora.

Esta semana recebi a notícia de que um primo, com cerca de 40 anos, analfabeto, alcoólico, sem profissão e desempregado, tomou veneno para matar rato, conhecido como chumbinho. Ele entrou em coma e no dia seguinte veio a óbito. Mesmo ele morando também aqui no RJ, eu nunca tive contato com este primo. Fiquei pensando, sobre o que o levou a tomar esta atitude extrema. Bem a situação para ele não estava nada fácil, mesmo assim não justifica a atitude, se fosse uma regra não haveria cemitério suficiente na cidade que desse conta da demanda, concorda? E também não é somente pobre que se suicida. Não tenho certeza, mas creio que este evento ocorre muito mais freqüência nas classes mais favorecidas.

Uma das respostas a este fato seria que, vivemos cercados de ilusões. Algumas nós criamos, algumas recebemos prontas, ou de nossos pais, ou da própria sociedade, como uma herança que vai passando de geração a geração. Cuidado!

Responda a si mesmo: Quem tem feito suas unhas e cabelos crescerem? Se eu pudesse, eu os faria pararem de crescer no tamanho ideal, e você? Também não? O que há, ou melhor, o que está faltando em uma pessoa morta, se compararmos com uma que está viva? Não vale responder “a vida”, ok? Se insistir em responder “a vida”, então explique o que é “a vida”? Porque somos os únicos na face da Terra que possuímos inteligência, ou melhor a razão? Se vier com aquela conversa que o macaco, o golfinho, o cachorrinho vira-lata ou algo deste tipo também possuem “razão”, terei que te pedir para então deixar que ele administre seus negócios. Já que são comparáveis ao homem, certo?

As ilusões cegam nossos olhos e enxergamos o mundo de uma ótica particularizadamente “eumesmolística”, entende? Perdoe o neologismo! Enxergamos tão longe quanto a ponta do nosso nariz, quando muito, nosso próprio umbigo. Mais uma vez ... cuidado!

Na maioria das vezes a catarata que está em nossa córnea, só é curada em situações extremas, tal como aconteceu com o médico psiquiatra, Dr. Theo.

Enxergue além do seu umbigo, e contemple o mundo onde você vive. Observe a perfeição e simetria que há na natureza. Quem está por traz disto tudo? Repare o quão insignificante nós somos, em termos dimensionais, se comparado a tudo o que existe e é real, ou pelo menos achamos que é real.

Infelizmente este primo um dia cria que dominava o próprio vício. Neste caso houve uma inversão de posse, a pseudo-caça dominou o pseudo-caçador. Como acontece na maioria dos casos tornamo-nos escravos, como exemplo, do trabalho, do tempo, do sexo, do cônjuge, dos filhos, do egoísmo, da ganância, da religião, da religiosidade e muitas outras facetas de ilusões, as quais este mundo oferece a nós.

Confesso que ainda tenho muitas ilusões das quais ainda preciso me curar. O que eu posso garantir, com respeito a mim é que o controle de minha vida está em boas mãos, não nas minhas mãos, mas nas mesmas mãos que criou tudo o que você vê, sente e toca. Estas mãos têm curado minha visão a cada dia e apontando sempre o melhor caminho. Estou ou não estou em boas mãos?

E você tem muitas ilusões?

Agora eu te pergunto:

- Quem está no controle?

Inspirado por Deus, escrito por:

Beneth Costa Gomes.

Um comentário:

Bianca disse...

É... tantas coisas me ocorrem agora que seria impossível escrever... excelente! Vou reler.